Diário do Purgatório © 2012 - 2014
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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." Samuel Beckett
por Fernando Lopes, 12 Mai 15
Como qualquer adicto em livros, mantenho o hábito de comprar mais que os que consigo ler. No blogue da G. li um pequeno excerto de «Pó, Cinza e Recordações». Fui à FNAC procurá-lo. A menina do atendimento a dizer-me que não estava na base de dados e eu furibundo a dizer que o tinha visto no site.
- Pode estar em pré-venda.
Assim era, saí dali com o rabinho entre as pernas e «Pergunta ao Pó» de John Fante debaixo do braço. Acabei-o ontem. Uma vez que o dinheiro não é elástico, estava à espera do fim-de-semana para usar os cartões daquela cadeia que me deram de presente.
Seria muito bonito se no centro comercial onde almoço não houvesse uma Bertrand. Vi-o, ele viu-me, não resisti, trouxe-o para casa. Em boa hora o fiz, pois escrevo às 2:00 da manhã, 140 páginas lidas depois. Rentes de Carvalho é um enorme escritor. Poucos conseguem fazer literatura à volta de pequenos factos, problemas, dramas e irritações. Este diário nada fica a dever a outra obra de excepção, o seu «Tempo Contado».
Absolutamente obrigatório.
por Fernando Lopes, 28 Set 14
A frase, leio-a páginas 165 de «Montedor», uma espécie de síntese da demanda do protagonista. Recuo décadas porque também eu ouvi esta sentença da boca da avó, incapaz de compreender a angústia, inquietação, mal-estar, que as mais das vezes me acompanham. Uma insatisfação, um permanente vazio, sempre presentes, mesmo nos dias mais solarengos. Inútil dizer que é caminho que se não escolhe, antes praga que persegue, porque a felicidade das coisas simples, a do que é igual aos outros, do que esperam de nós, sempre parece insuficiente.
por Fernando Lopes, 31 Mai 14
Admirador quase incondicional de J. Rentes de Carvalho, assisti com enorme prazer à homenagem que lhe foi prestada no âmbito do LeV. Não escrevi aqui sobre a sessão por duas razões: as minhas palavras nada iram acrescentar e por um prazer egoísta de quem resguarda um pequeno tesouro como se fosse só seu. Ao contrário de Soliplass, que tive o enorme prazer de conhecer, o meu talento com as palavras é reduzido, mantendo distância respeitável e embaraçada humildade, quase reverência, perante brilho alheio. Inspirado pelo meu novel amigo – acho que o posso chamar assim – um frequentador assíduo de alfarrabistas tanto em Portugal como no Brasil, lancei-me na demanda de encontrar antigas obras de J. Rentes de Carvalho, a quem toda a gente, numa familiaridade quase desrespeitosa, tratava simplesmente por «José». Eis o resultado, um livro já com as maleitas do tempo, que lhe dão «estória». Vai directamente para a minha secção de tesouros.
por Fernando Lopes, 7 Mai 14
Será no próximo sábado 10, às 21:30, no âmbito da LeV (Literatura em Viagem). Embora o conceito de homenagem não me seja particularmente querido, lá estarei para o ouvir. Quem não teve oportunidade de assistir a apresentações suas ficará certamente encantado com este «contador de estórias». JRC, com o seu jeito despretensioso, tímido, pleno de humor e sarcasmo, é um contador nato, tanto na palavra escrita como na oralidade. Falhadas as «Correntes», vai ser um prazer ouvir o velho mestre.
por Fernando Lopes, 5 Mar 14
A propósito deste post de Soliplass, e de releituras, exibo com orgulho despudorado esta dedicatória de mestre J. Rentes de Carvalho. O pai deixou-nos também ele as suas preciosidades autografadas, uma primeira edição de «A Divina Comédia» em inglês comprada num alfarrabista desatento, um exemplar feito em casa sobre os primeiros a vencer o Evereste. Os livros vencem o tempo, passando de pais para filhos, um testemunho de amor à palavra escrita, às «estórias», à arte de contar.
Estive na Feira do Livro em que J. Rentes de Carvalho autografou este exemplar de «O Rebate» com a minha filha. Pedi para a fotografar junto ao mestre, que prontamente acedeu. A fotografia passou do telemóvel para um passepartout que está ali na sala. Um miúdo que nos visitava não resistiu à pergunta óbvia:
- É o teu avô?
por Fernando Lopes, 28 Jan 14
Uma velha entrevista de J. Rentes de Carvalho, o encanto de sempre do menino perante o mestre.
por Fernando Lopes, 25 Jan 13
O segundo caso deu-se em Portugal, também numa estrada, dessas em que laboriosas curvas sobem e descem as encostas do monte. Embora a carreira tenha paragens certas, nenhum chofer deixará de parar a quem lhe acene.
O dia em que num descampado apareceu um homem a pedir passagem, e porque a camioneta já ia cheia, disse-lhe o chofer que a única solução seria viajar no tejadilho. Para compensar o incómodo só lhe cobrava meio bilhete.
O homem subiu, achou curioso ver um caixão de defunto, e acomodou-se entre as malas e os embrulhos, procurando a melhor maneira de se defender do frio. Quando mais tarde começou a chover, diz ele que hesitou um momento por lhe parecer de mau agouro, mas finalmente abriu a urna e deitou-se dentro. À cautela, não fosse a tampa fechar-se, tomou o cuidado de lhe pôr uma caixa de fósforos a servir de calço. Supõe que o tomou então uma modorra, porque só vagamente se recordava de ter sentido a carreira parar e de ouvir que alguém subia. Mas com a ronceirice do andamento e a monotonia da chuva, acabou por fechar os olhos.
O chofer tinha de facto parado para outro viajante, e por não haver ainda lugar informou-o também de que o remédio seria subir para o tejadilho.
Afinal - disse ele - não vai sozinho. Já lá está outro.
Reconstruindo depois o que aconteceu, sabe-se que o novo passageiro ao ver o caixão tirou com respeito o chapéu e se sentou perto, indiferente ao frio e à chuva de que nada o abrigava. Pelo menos foi assim que, cada vez vez que acordava da sua sonolência, o "morto" o viu através da frincha.
Finalmente, desejoso de mover o corpo dorido pela imobilidade a que o obrigava o esquife, e tendo a impressão que o tempo aclarara, estendeu o braço para fora e, brincalhão, perguntou numa voz soturna: - Ó camarada ainda chove?
Ao ver que o defunto mexia e o interrogava num tom de além túmulo, a reacção do homem foi fulgurante: atirou-se abaixo da carreira. Quebrou os ossos, mas escapou com vida. O outro também nada sofreu. Mas o chofer, assustado ao ver o passageiro cair, perdeu a direcção a atirou com a camioneta para um barranco. Quatro mortos.
Bem sei, não deve a gente rir-se da desgraça alheia, mas que hei-de eu fazer?
J. Rentes de Carvalho, Mazagran, páginas 175-177
Reproduzido com permissão do autor, que com a habitual cortesia, me informou ser este episódio absolutamente verídico, passado algures na estrada velha entre Lamego e a Régua. Daí ter usado palavras suas, "sem ponta de ficção", para renomear esta estória.
por Fernando Lopes, 3 Jun 12
Os visitantes deste blogue conhecem bem a minha admiração por J. Rentes de Carvalho. Ontem, na Feira do Livro, tive oportunidade de ficar 5 minutos à conversa com o Mestre. Fiquei profundamente sensibilizado pela sua simplicidade, simpatia e humor. Um privilégio que jamais esquecerei. Já amava a obra, impossível não ficar rendido ao homem.
por Fernando Lopes, 10 Nov 11
Não tem mal ser puto. Nem acreditar no Pai Natal dos mercados. Nem mesmo o facto de ser um liberal um bocado parvo lhe retira um lugar ao sol. Afinal, até escreve no "Espesso". Li dele um ensaio mediano sobre a obra do mestre na Ler. Agora isto é demais. Quando não se tem talento nem mestria com as palavras, quando não se passa de mais um franco-atirador na selva que publica toda a merda, devia ter-se humildade. Adaptamos? Sugerimos? Não, vampirizamos talento alheio, que é o que fazem os medíocres. A tua maior glória literária foi e será a historieta dos ordenados da CP.
por Fernando Lopes, 8 Out 11
"Na confusão de responsabilidades e obrigações uma coisa surpreende: nos centros onde o poder reside, as únicas cabeças que mudam são as dos títeres engravatados que, ora anunciam pomposamente medidas de salvação, ora assustam com profecias de pragas bíblicas. Os senhores que de facto mandam são, mais cabeça menos cabeça, os que vêm do antigamente pré-revolucionário. Seguram eles com mão firme os cordelinhos e agem a seu bel-prazer, de modo que constantemente me ocorre a pergunta: que democracia é esta, que me dizem existir e mal consigo enxergar?"
J. Rentes de Carvalho no "Tempo Contado".
boa tarde , estive neste sitio esta semana e pergu...
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