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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." Samuel Beckett
por Fernando Lopes, 15 Jul 15
A bordo da pick-up vermelha
Longe de mim dar uma de Kerouac, até porque a ilha apenas tem uma estrada alcatroada. Existem mais duas ou três de paralelos em bastante mau estado, mas para conhecer os locais emblemáticos é necessário andar sobretudo por caminhos em terra batida e alguns troços nem o epíteto de caminhos merecem, são apenas sulcos da passagem diária de veículos todo-terreno. O único meio de se deslocar é em veículos 4x4. Aqui, como no Sal, são usadas sobretudo pick-ups, com a caixa aberta transformada com duas filas de bancos frente-a-frente. Os mais aventureiros têm a possibilidade de andar de moto 4, e aviso já que alguns percursos têm dificuldade elevada para principiantes.
Segundo me informaram, a única tradição da Boa Vista é a olaria, e em Rabil existe uma pequena escola onde podemos ver e comprar artesanato típico. O acordado foi um percurso de 5 horas, pela módica quantia de 80 euros, o que dividido por 5 é uma quantia bastante mais em conta que as propostas tradicionais dos operadores turísticos.
Aconselha-se levar água e a tomar banho em protector solar, pois mesmo eu, de tez árabe, não teria escapado a um gigantesco escaldão depois de 5 horas ao sol e solavancos na carrinha de caixa aberta.
Às 9 já o Sami estava à nossa espera. Um jovem de 29 anos, como a maioria da população da ilha. Toda a Boa Vista está pejada de juventude, uma agradável variante para quem sai de um país e continente envelhecidos.
Fugimos à enchente da olaria e vamos directos ao deserto de Viana. É um deserto de areia fina, batida pelo vento, fixado por paredes de pedra e umas redes colocadas para reter as areias que pairam no ar e que são também trazidas pelos ventos do continente. Não é muito diferente do deserto de areia que conheci em Marrocos ou Tunísia, apenas bastante mais pequeno.
O nosso condutor e guia Sami
Um arbusto resiste no Deserto de Viana
Vista de uma das dunas
Daí seguimos para a praia de Santa Mónica, que o improvisado guia diz ter mais de 18 kms. Certo é que é praia tanto quanto a vista alcança sem uma única construção. A paisagem permanece intocada porque, por graça de Deus, não existe um caminho aceitável que permita transportar materiais. Face ao areal imenso e águas quentes, azul-turquesa, temo que não permaneça com o seu encanto virgem durante muitos anos.
Praia de Santa Maria, areal intocado de 18 km de extensão
Por caminhos em que até as cabras têm dificuldade em andar, seguimos para a praia da Varandinha, onde avisto um magnífico corvo que se diverte a sobrevoar as dunas e rochas. Diz-me o Sami que aqui é local para quem gosta de surf e indica uma gruta, a Buracona. Apesar do apelativo do nome, é apenas rocha esculpida pelo mar. Lá repousava um tronco de uma árvore, numa posição fetal, quase humana.
Praia da Varandinha
Gruta da Buracona
Cuidado com as tartarugas
Com os rins feitos num oito e o rabo quadrado, vamos por um caminho de pedras até à Povoação Velha. Uma pequena aldeia familiar, com casas bem cuidadas, e onde consta, habitam os boavistenses mais abastados. Não faltam um Centro de Juventude e uma Igreja. Antiga capital, distingue-se das restantes pelo esmero de ruas e habitações.
Centro de Juventude (Povoação Velha)
Igreja na Povoação Velha
Encruzilhada
De seguida, e evitando as hordas de turistas, deslocámo-nos até à oficina de olaria. Uma vez que somos os únicos visitantes, temos tempo de trocar conversa e até discutir futebol. Maioria benfiquista, mas encontramos um portista que nos recorda o jogador Rolando, do F.C. do Porto, também ele cabo-verdiano.
Escola de olaria e as tartarugas símbolo da ilha
Vista de Rabil
Para terminar fomos ver um dos ícones da Boa Vista na Praia Cabo de Santa Maria, o famoso barco encalhado em 1 de Setembro de 1968. O barco carregava valiosa carga como carros, armas, máquinas e produtos de saúde. Durante um ano retiraram tudo o que era possível do navio, ficando este como testemunho do tempo e inclemência da natureza.
Curiosamente, a praia deve o seu nome ao barco, já que antes se chamava praia da Boa Esperança.
A degradação do Cabo de santa maria entre 1968 e 2009
O que resta em 2015
Regressamos por entre cabras e burros, certos que haverá outras visões possíveis da Boa Vista. Cada olho vê da sua maneira, cada coração sente a seu modo, este é tão-somente o meu.
As sempre presentes cabras
Um macho tentou a sua oportunidade. A fêmea não estava para aí disposta, o desgraçado levou um coiçe que até a mim doeu
Cartões do Zé Silva e Sami, ao cuidado de eventuais interessados
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boas férias