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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." Samuel Beckett
por Fernando Lopes, 31 Out 14
Uma empresa decidiu oferecer uma espécie de «casa de cartão» aos sem-abrigo. A ideia divide-me. Não negligenciando os aspectos práticos da coisa, parece-me uma forma simples de aliviar consciências, como se um cartão alguma vez fosse abrigo digno para um ser humano.
Certo é que existem, e ocasionalmente me deparado com um destes resguardos na Rua Júlio Dinis. Cobertores e alguns parcos haveres estão ali armazenados, junto a uma das inúmeras lojas abandonadas, que entretanto iniciou obras para ser reocupada por um negócio que em breve será mais uma falência.
Ouviam-se marteladas e a água corria debaixo da porta da loja para a «casa de cartão», molhando o peculiar domicílio. Hesitei entre bater à porta e alertar os trabalhadores ou afastar o abrigo da água. Como estava sozinho, para não correr riscos de ter de me haver com alguns matulões, resolvi deslocar o cartão. Não foi a coisa mais corajosa do mundo, mas a solução possível sem ter de me sujeitar a andar à pancada.
Depois, reflecti na minha cobardia, na da sociedade em geral, na dos que tendo emprego ignoram os que têm menos sorte. Enoja-me ser assim, enoja-me esta sociedade que tudo tolera, enoja-me a indiferença dos transeuntes, dos operários. Chegamos a um ponto em que, em modo de sobrevivência, apenas o nosso pequeno mundo parece ser importante. Não sei se há retorno deste estranho local aonde chegamos, onde o outro nos é indiferente. Afastar as coisas e sair dali foi uma das maiores vergonhas que me autoinfligi.
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