Diário do Purgatório © 2012 - 2014
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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." Samuel Beckett
por Fernando Lopes, 10 Abr 12
Catatónico. Era nesse estado de não-consciência que João vivia. Várias gerações da aldeia não se recordavam de o ver que não nesse estado alheado, do abandono em que pairava. Não era violento, alegre ou repetitivo. Ficava apenas parado, olhando o vazio, como se não existisse nada para lá do momento, como se estivesse já morto, compartilhando com anjos um silêncio cúmplice, um segredo que apenas os que já passaram a barreira conhecem. De facto desaparecera há já muito. As barbas longas, o fedor que exalava, os cabelos desgrenhados, o hálito nauseabundo, a abstinência de água, até para se lavar, levavam a que fosse servido do lado de fora da tasca. De verão ou inverno. Os homens passavam por ele como se fosse uma estátua, uma ramada, um vulto, algo que sempre ali esteve, no seu lugar natural. Conheciam bem o drama do João da Anita. Desde o dia em que ela passou a ser apenas parte do nome e deixou de existir, também ele morreu. Como se a partida acidental da mulher o tivesse arrastado. Nem só nos romances existem amores assim, daqueles em que tudo para na ausência do ente amado. Não conhecia poetas nem prosadores que, graciosamente, narraram a sua circunstância. Estava só, inebriado, a contemplar o nada. Até que este, piedosamente, o viesse também reclamar.
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